Mulheres Históricas e a Vanguarda Cooperativista

Não é de hoje que as mulheres buscam seu lugar ao sol, equidades e direitos. Nesse contexto, sabe-se que o cooperativismo sempre se posicionou como vanguarda, à frente do tempo, reconhecendo, desde os primórdios, o papel da mulher.

É histórico. Na Inglaterra de 1844, em meio à Revolução Industrial, onde as mulheres não tinham direitos, vez e nem voto e eram praticamente “propriedades”, a Sociedade Cooperativa Equitativa dos Pioneiros de Rochdale, referência do cooperativismo moderno, permitiu desde sua criação o ingresso de homens e mulheres em sua composição. Não só isso, a partir daquele momento as mulheres poderiam passar a gerir seus próprios recursos, auferindo inclusive sua participação nos lucros societários. Em 1846, a tecelã Eliza Brierley, esposa de um dos pioneiros, William Cooper, entrava para a cooperativa e para a história, tornando-se a primeira mulher a se cooperar. Ela quebrou paradigmas sociais da época, abrindo portas e possibilidades para muitas outras mulheres mundo a fora. 

Os Pioneiros também são os responsáveis por princípios norteadores que até hoje regem o cooperativismo. Tanto é que o primeiro princípio universal basilar do cooperativismo, herança de Rochdale, consiste exatamente na adesão livre e voluntária. Assim, as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizarem seus serviços e assumir responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo ou gênero social, racial, político e religioso.

No Brasil, certamente uma das maiores referências femininas no cooperativismo é Diva Benevides Pinho. Professora Doutora da Universidade de São Paulo (USP), foi a primeira pessoa a escrever uma tese de doutorado em economia sobre o cooperativismo na instituição citada. Em seu trajeto didático, Diva foi uma das primeiras brasileiras dedicadas a pesquisar e a estudar academicamente o tema, sendo autora de aproximadamente 20 obras sobre cooperativismo. Dentre elas: “Cooperativas e Desenvolvimento Econômico: o cooperativismo na promoção do desenvolvimento econômico do Brasil” (1963); “Economia e Cooperativismo” (1977); e “Gênero e Desenvolvimento em Cooperativas: compartilhando igualdade e responsabilidades” (2000). E, em todo o contexto, possui uma história ímpar de dedicação em prol do desenvolvimento do cooperativismo, especialmente nos ramos agropecuário e de crédito.

Além de Diva, existem várias mulheres que marcaram e marcam esta área, fazendo grande diferença e também trazendo grandes contribuições. É o caso, por exemplo, da inglesa Pauline Green, eleita em 2009 a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), e da uruguaia Graciela Fernández, que atualmente preside a mais importante entidade cooperativa das Américas. 

Como visto, a mulher tem um papel fundamental no cooperativismo, e vem ganhando cada vez mais espaços, inclusive de lideranças. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), atualmente, cerca de 52% de cooperados são mulheres.

Tanto que, para o 14º CBC - Congresso Brasileiro de Cooperativismo (2019), o Sistema OCB selecionou 20 (vinte) mulheres do Brasil como Embaixadoras Coop. O objetivo: participarem do encontro com direito a voz e voto nas deliberações e escolhas das diretrizes prioritárias para cooperativismo. A dedicação e cooperação foram tão visíveis que o reconhecimento da importância de tal participação culminou com o compromisso do presidente, Márcio Freitas, durante a realização de plenária, de criar o Comitê Nacional de Mulheres do Sistema OCB, com caráter consultivo da diretoria para o fortalecimento da participação democrática das mulheres no cooperativismo. Destaque-se que o referido comitê foi efetivado em janeiro de 2021, sendo composto, em sua maioria, pelas Embaixadoras Coop, como esta que vos escreve. A representatividade dessa iniciativa delimita mais um marco na história das mulheres no cooperativismo brasileiro. 

 

Jamile Barbosa Guimarães de Vasconcelos é advogada, consultora associada e delegada reeleita da Sicredi Ceará Centro Norte. Selecionada Embaixadora Coop, é participante do Comitê Nacional de Mulheres do Sistema OCB. Foi coordenadora fundadora do Comitê Mulher da Sicredi Ceará, fez parte do Programa de Formação de Conselheiros de Cooperativas de Crédito – FORMACRED, pelo SESCOOP/CE. É ainda pós-graduanda em MBA de Gestão de Cooperativismo de Crédito, em curso realizado na Faculdade CDL de Fortaleza/CE.


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