Futuro

As cooperativas e os desafios do mundo nas próximas décadas

• João Nicédio Alves Nogueira
• 03/04/2022

No início dos anos 2000, um grupo de produtores rurais da Serra da Ibiapaba, fronteira do estado do Ceará com o Piauí, reunia-se em associação para plantação de hortaliças, legumes e frutas. Aproveitaram o clima diferenciado da região serrana e fizeram melhor: plantio sem utilização de agrotóxicos, e assim objetivaram preservar a saúde dos familiares e de quem viesse adquirir seus produtos.

Passado algum tempo, perceberam que a constituição de uma cooperativa iria melhorar substancialmente as condições de atuação. Entenderam que, além da aquisição de insumos com custos menores, melhorariam a rentabilidade econômica e o escoamento da produção. Nascia, em 2015, a Coapoi - Cooperativa de Agricultura de Produtos Orgânicos da Ibiapaba, sediada na cidade de São Benedito, hoje com 30 cooperados distribuídos entre os municípios de Carnaubal, Guaraciaba do Norte e Croatá.

O questionamento que surge a partir daí: se não fosse a cooperativa, a condição de sucesso do grupo seria a mesma?

O exemplo da Coapoi bem ilustra como a empresa cooperativa é fator determinante na produtividade de pequenos produtores, facilitando o acesso a mercados, crédito, seguro e tecnologia. Hoje referência regional - no segmento de agricultura orgânica no Ceará - a Cooperativa de Orgânicos da Ibiapaba parte para dar passo maior: aumentar o valor agregado da produção, ampliar o mix de produtos e clientes e melhorar o rendimento dos cooperados. O objetivo basilar: incrementar a geração de emprego e renda para a região mantendo o respeito às questões ambientais. A Coapoi faz valer a força do cooperativismo cearense.

O exemplo do Ceará permite afirmar que as cooperativas, em qualquer parte do planeta, desempenham papel determinante nas sociedades, contribuindo de modo significativo para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em termos de geração de emprego, erradicação da pobreza, redução da fome e da desigualdade. O cooperativismo é, sim, a terceira via entre o capitalismo e o socialismo. Enquanto segunda onda, mostra seu caráter político e o papel fundamental no desenvolvimento sustentável do mundo globalizado. Representa inclusão social.

Em todo o contexto, penso principalmente que o cooperativismo é uma doutrina fantástica, amparada em valores básicos, princípios e ética incomparáveis. Estou no movimento cooperativista há quase 40 anos, como presidente de cooperativa, diretor e presidente de unidade estadual, e sei que esse conjunto de regras que nos norteia só floresce quando há verdadeira necessidade da existência de uma cooperativa, que ela precisa ter viabilidade econômica e não pode prescindir de liderança.

“Na era da globalização, a defesa de uma sociedade justa e solidária é interpretada quase como uma utopia”, afirmou o presidente Márcio Lopes, que acrescenta: “Baseado nos seus consagrados princípios de igualdade e solidariedade, o cooperativismo se coloca como contraponto à prática cega desta globalização mercantil”. Em verdade, reinventando-se e mostrando seu real brilho, as organizações cooperativas, nos períodos de crise, crescem no tocante à geração de emprego e em indicadores como o índice de retenção de colaboradores, entre outros aspectos. As cooperativas respondem positivamente às questões sociais ao mostrarem que é possível produzir com respeito aos recursos naturais e às pessoas.

Assim como acontece com a Coapoi, as cooperativas em geral têm a chance de crescer muito mais, bastando, para isso, ampliar sua capacidade de reação frente às novas demandas sociais. Por sua vez, para o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon: “É preciso que os governos criem um ambiente propício para que as cooperativas prosperem e cresçam”. Estamos fazendo isso no Ceará, e é o que acontece no Brasil.

 

João Nicédio Alves Nogueira – Presidente do Sistema OCB-SESCOOP/CE
nicedio.nogueira@ocbce.coop.br

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