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Ramo Transporte
Pioneirismo nacional: conheça a Brascoota, primeira cooperativa de transporte rodo-aéreo de cargas e passageiros do mundo
A identidade do cooperativismo, em essência, é a transformação contínua. A máxima é compartilhada, inclusive, por maioria das organizações: em pesquisa realizada pelo Sistema OCB, em 2021, foi constatado que 84% das cooperativas reconhecem a importância da inovação no cooperativismo. Dentre as iniciativas brasileiras do ramo transporte, há de se conceder o devido destaque à primeira cooperativa de transporte rodo-aéreo de cargas e passageiros criada no mundo.
A Brascoota, organização com matriz em Belém (PA) e filial em Lins (SP), realizou voo inaugural em 2021 e pretende consolidar a operação a partir de 2022, em uma estratégia ousada que pretende diminuir significativamente custos para os consumidores e estabelecer um novo modelo de transporte a ser replicado por organizações em todos os continentes.
Composta por 20 cooperados, sendo estes pilotos, engenheiros de voo e mecânicos, administradores, bem como os gerentes de operações e diretores, a cooperativa também é apta a realizar atividades como administração de aeroportos, serviços auxiliares de aviação e serviços aduaneiros.
A ideia pioneira, no entanto, tem seu custo: a ideia surge de um contexto de completa escassez perante o mercado. No momento, não existem empresas aéreas — conforme o regulamento brasileiro da aviação civil (RBAC 121) — que sejam voltadas ao transporte de cargas e que atendam ao setor privado e cooperativas. De acordo com o diretor administrativo da Brascoota, Murilo Karapeticov, o início da operação depende da liberação de alguns recursos financeiros, mas também perpassa pelo próprio entendimento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre as atribuições da iniciativa.
“A própria Anac não tem o modelo de operação integrado para o nosso caso. Para começarmos a voar, é necessário que a própria agência entenda o nosso modo de voar, como nós voamos, qual o nosso intuito de voar. Depois, é necessária uma checklist das aeronaves, para ver se elas estão dentro das normas”, explica. Apesar da pendência de validação da Anac, o projeto assegura que segue todas as normas e regulamentos vigentes das organizações e agências de aviação mundiais.
Com o modelo de negócio adotado pela Brascoota, há uma redução de custos significativa com base na redução dos custos de transportes, por meio da desoneração de impostos, taxas e obrigações trabalhistas, oriundo exatamente da escolha do formato da corporação em vez de uma estrutura societária tradicional. Ademais, Karapeticov cita que o senso de pertencimento, por se tratar de uma cooperativa, também colabora para garantir maior economia.
“Ao ponto que na empresa existe a visão única do lucro, a cooperativa visa seus cooperados e o bem-estar deles. A nossa operação é autossustentável, então o piloto é nosso, nós economizamos com o combustível de acordo com a adaptação aos pés do voo e existe um fator de cuidado por parte dos nossos profissionais. Se você está dirigindo o seu carro, você é muito mais cuidadoso, não é? Então isso se aplica a nossa lógica e nos faz ter uma economia enorme com manutenção”, aponta.
Detalhes sobre os valores de investimento ainda estão sendo decididos, a partir da descrição pormenorizada sobre a quantidade de cotas adquiridas e de cargas a transportar, rotas, modelo da aeronave, estrutura aeroportuária, entre outros.
A cotização, inclusive, é outra estratégia de redução de custos e gera economia de mais de 50%, em comparação com operações tradicionais. No caso da cooperativa, não há limites como em outras empresas: há a possibilidade de conduzir centenas de toneladas dos mais diversos produtos, como carne, álcool, gado, frutas e demais materiais. No planejamento da Brascoota, se planeja a utilização de aeronaves turbo-hélice, bem como modelos mais robustos, como o Boeing 737.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 50% dos desperdícios com alimentos acontecem exatamente durante a fase de transporte. Isso acontece, por vezes, por questões internas como sensores fora de tolerância, com defeito ou por orientações equivocadas durante o deslocamento do mesmo. Na avaliação da cooperativa, isso culmina na diminuição da competitividade do produto.
Também é pontuado pela Brascoota que há o aproveitamento apenas de pequenos espaços das aeronaves das empresas aéreas, sem condizer com os custos do transporte. A Brascoota também reforça que há pouca eficiência na integração entre os modais aéreos e terrestres, gerando novos prejuízos.
Apesar do percalço, o cenário é positivo para a área. No total, 625,7 mil toneladas de cargas foram transportadas do Brasil para o exterior e vice-versa em aviões, entre janeiro e agosto de 2021. O número já representa o recorde da série histórica (contabilizada há 21 anos) e representa um aumento de 13,5% em relação ao ano de 2019.
No caso do transporte de passageiros, Murilo Karapeticov aponta que existem conversas com empresas detentoras de pacotes de viagens, para que seja construída uma estratégia comercial que engloba a cooperativa. No início do mês de outubro passado, foi realizado um voo inaugural, em parceria com o grupo de aviação Omni Aviation e as operadoras Senator Tour Operator e Turismo da Fé. O voo seguiu para o aeroporto de São José dos Campos (SP) e foi preenchido, exclusivamente, para os passageiros que desejavam visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
O diretor administrativo da cooperativa aponta que existe um grande potencial de ser oferecidos voos para públicos que ainda não são suficientemente contemplados com a oferta das empresas aéreas tradicionais. “Existe o objetivo de expandir a ideia do voo voltado para os peregrinos, por exemplo. O tempo de ônibus que muitos levam para chegar na basílica dificulta muito que as pessoas usufruam da viagem e conheçam adequadamente os locais. Se há um voo pensado para conectar adequadamente os modais e atender a demanda dessas pessoas, isso já facilita demais a vida delas, além de ser uma ideia excelente para pessoas que têm dificuldades de locomoção e não lidam bem com viagens muito longas”, explica.
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