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Cooperativas do ramo de transporte mostram força durante pandemia no Brasil

O Brasil não parou durante a pandemia do novo coronavírus. Embora vários setores tenham tido interrupções nas cadeias de produção ou de atendimento direto ao consumidor final - em especial o comércio -, os setor nacional de logística, majoritariamente viabilizado por veículos terrestres através da malha viária, manteve em funcionamento os sistemas de transporte e distribuição de cargas por todo o país.

Atualmente, dois terços de todas as cargas do Brasil passam por rodovias. Com a crise sanitária, os transportadores precisaram se desdobrar para que não houvesse interrupção de cadeias de abastecimento de setores fundamentais - como o médico-hospitalar e o agrícola; de matérias primárias - que têm relação com grãos e fertilizantes; a produtos colhidos e usados na produção de alimentos. Em tal contexto, há ainda o atendimento à demanda crescente do e-commerce e o delivery, impulsionados pelas medidas de isolamento social. 

E, entre empresas comerciais e transportadores autônomos que atuam nessa frente, um terceiro tipo de organização tem tido destaque no transporte de cargas durante a pandemia no Brasil: as cooperativas. Com mais de 22 mil veículos em circulação, as cooperativas do ramo de cargas integram o esforço coletivo do setor que garantem o funcionamento de hospitais, farmácias e supermercados. 

“Somos linha de frente do Brasil em termos de abastecimento e tínhamos um desafio muito grande nas mãos. As cooperativas fizeram um grande trabalho nessas situações de apoio”, aponta Evaldo Matos, presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Transportes (Fetranscoop). “Estamos há mais de um ano nessa luta sem parar nem um dia, somos os verdadeiros heróis das estradas, não paramos”, destaca, sem esconder o orgulho. 

Por todo o Brasil, são cerca de 1,3 mil cooperativas do ramo de transportes de cargas e passageiros. Elas se unem em torno de federações estaduais ou regionais, que, por sua vez, estão ligadas à Fetranscoop nacional. O ramo conta com quase 100 mil cooperados, conforme dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), sendo o sétimo maior do país.  

Em 2020, conforme a Fetranscoop, a demanda de transporte de cargas por cooperativas teve aumento de até 30%, o que levou a maioria dessas organizações a fechar o ano com saldo positivo no caixa, um cenário diferente daquele vivido por muitas organizações Brasil afora. Para obter esse resultado favorável, no entanto, foi necessário superar inúmeros obstáculos.

Ao todo, o Brasil tem cerca 1,7 milhão de quilômetros de rodovias, das quais menos de 13% são pavimentadas. Diante do risco sanitário, o ramo das cooperativas de transporte investiu em medidas de proteção da saúde do cooperado, dentre as quais a distribuição de luvas, máscaras, álcool em gel e campanhas continuadas de conscientização. Houve, ainda, um substancial aumento dos insumos necessários aos transportadores: combustíveis, peças de reposição e até mesmo a falta de veículos novos devido à interrupção da produção por várias empresas fabricantes de automóveis. 

Para os transportadores, as cooperativas de transporte oferecem uma oportunidade singular de atuação no concorrido mercado das cargas. Enquanto nas empresas convencionais o transportador costuma ser um funcionário celetista ou agregado, no modelo cooperativo ele é sócio dessa organização privada de caráter coletivo. Há também as compras coletivas de veículos: as cooperativas se unem para aquisição de vários automóveis de uma vez. Assim, obtêm redução no custo de aquisição. 

Com as cooperativas, o transportador elimina a figura do atravessador, que intermedia o contato entre o embarcador (aquele que envia a carga) e o proprietário do transporte, garantindo melhores retornos para o cooperado. Isso ocorre porque é responsabilidade da cooperativa ir ao mercado em busca de clientes e insumos para realização do serviço de transporte. 

O presidente da Fetranscoop, Evaldo Matos, destaca que o modelo cooperativo é uma vantagem até para o contratante: “Primeiro, ele tem a possibilidade de comprar direto de quem é dono. Segundo, ser atendido pelo próprio dono do transporte faz com que o transporte seja feito na melhor qualidade, porque é o dono transportando. E o custo também: comprar direto do dono é mais barato do que comprar de um atravessador”. 

Para 2022, o cenário que se avizinha na demanda pelos transportes de carga é semelhante ao do ano passado, sobretudo com os sinais de recrudescimento que a crise sanitária provocada pela Covid-19 tem demonstrado.  Com o avanço da vacinação, Evaldo Matos, no entanto, visualiza uma conjuntura favorável ao setor. “Vamos ter que transportar muito em 2022 porque vamos ter que reabastecer o mundo. Então temos uma expectativa muito grande, sobretudo no agronegócio”, avalia. A mensagem é clara. Mesmo com desafios, se os veículos estiverem na estrada, é possível o Brasil avançar.


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