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Cooperativas do ramo de transporte contornam crise da pandemia e se reinventam para acompanhar mudanças

Em meio à uma crise sanitária que castigou inúmeros setores da economia, poucos segmentos puderam fechar o ano com números não só positivos, mas históricos. É o caso das cooperativas do ramo de transporte de cargas. Classificado como serviço essencial, embora tenha sofrido uma redução no volume de cargas transportadas nas rodovias no início da pandemia no Brasil, o segmento estabilizou o cenário e fechou 2020 com as contas no azul, já preparado para mais investimentos em 2021.

“Toda e qualquer crise traz efeitos negativos, impactos demasiadamente negativos, e ela traz oportunidades também. Eles souberam surfar a onda da oportunidade no sentido de dar uma volta por cima de conseguir visualizar, aproveitar oportunidades. O resultado disso é o crescimento da própria frota”, explica Tiago Barros, analista técnico e econômico na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em Brasília. 

“A gente viu cooperativas investindo em modais que não estavam trabalhando anteriormente, como o e-commerce. E no e-commerce você não precisa de um caminhão grande, um automóvel pequeno faz isso”, detalha o profissional, que emenda: “Nós temos cooperativas que estão sendo avaliadas em plataformas como o próprio Mercado Livre como as melhores transportadoras dele”. 

Atualmente, há pouco mais de 1.300 cooperativas do ramo de transporte em atuação no Brasil. As atuações são das mais diversas: desde o transporte de cargas pequenas e fracionadas, delivery, até cargas pesadas e perigosas, fretamento turístico, transporte escolar, vans e mototáxis. Do total de cooperativas, 364 são voltadas especialmente para o transporte de cargas, conforme dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). E especialmente estas últimas têm se sobressaído em meio à crise. 

“Transporte de cargas nós temos uma diversificação muito grande, temos cooperativas que atuam em todas as áreas. Você tem todo tipo de clientes no mercado. Hoje não tem nicho no mercado, no transporte, que não tenha uma cooperativa atuando”, revela Barros, que há anos estuda o segmento. Conquanto sua atuação se estenda por todas as áreas, o principal setor atendido pelas cooperativas do ramo é o de agropecuária, sobretudo no transporte de grãos. 

Os números revelam uma pujança do agronegócio - entre 85 e 90% do transporte de cargas rodoviárias realizado por cooperativas no Brasil ocorre entre os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde estão concentradas as produções de soja, café, milho e arroz. No Sul, há ainda o destaque fronteiriço, o que permite muitos cooperados realizar fretamentos internacionais, com transporte de cargas para países como Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai. A joia da coroa do ramo, no entanto, está no Sudeste. 

Se os estados do Norte e Nordeste se destacam pelas cooperativas de transporte de passageiros, sobretudo de fretamento turístico, táxis e mototáxis; enquanto o Sul é proeminente no transporte de grãos; a região Sudeste, com sua densidade populacional, é lar de grandes cooperativas de transporte de passageiros e de iniciativas exitosas de e-commerce, mas é, também, o destino final do grosso do transporte de grãos, pois a partir de seus portos a produção agrícola é escoada para o exterior.

As medidas de isolamento e distanciamento social, naturalmente, impuseram desafios às cooperativas, principalmente no transporte de passageiros. “Transporte escolar e transporte de fretamento turístico, esses dois segmentos carecem de maior atenção para saber como eles vão ficar. Porque eles estão sofrendo a duras penas. É talvez os segmentos que mais chamam atenção para o cooperativismo de modo geral, para a questão: ‘o que fazer?’”, avalia Tiago Barros.

Neste aspecto, o analista da OCB aponta dois requisitos indispensáveis para a recuperação do segmento: transformação digital e profissionalização da gestão e dos cooperados. “É um desafio muito grande porque uma ação digital passa por um modelo mental da própria diretoria. Quando eu falo de transformação digital, eu estou falando em otimização de processo, estou falando em parceria também, assim como estou falando em criar soluções, em redução de passivo”, detalha. 

“O segundo componente que nunca deixou de ser prioritário, obviamente, é a profissionalização da gestão. Quanto mais capacitado, quanto mais empoderado, quanto mais entendedor do mercado no qual atua, das necessidades do mercado, mais indicado, mais eficiente, você é no comando do seu empreendimento”, continua. 

Para auxiliar as cooperativas nesta transformação, a OCB contratou uma consultoria que deve apresentar uma série de propostas para o futuro do cooperativismo, apontando macrotendências da economia nacional e mundial que devem ser absorvidas pelas cooperativas.

Quanto a isso, Tiago Barros não titubeia. Para ele, e-commerce e o intercooperativismo - a colaboração entre cooperativas para criar suas próprias cadeias de abastecimento e operação - são essenciais para o futuro deste modelo bem-sucedido de negócios. “A gente tem aí situações complicadas para esses modais que estão paralisados, mas temos a oportunidade também”, preconiza. E, neste caso, as palavras de ordem são as mesmas que no transporte de cargas: se há oportunidade, é preciso aproveitá-la. 

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